Pérola

"Nós entendemos que Israel tem o direito de se defender pois nesses últimos anos o Hamas lançou diversos foguetes na região"
Barack Obama

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Da crise no coração do império à crise por todo o império

Temos visto nos últimos dias, o fortalecimento cada vez maior da crise cíclica do capital, crise essa que apareceu primeiro com o “estouro da bolha de especulação imobiliária” que aconteceu nos EUA, seguida da quebra de vários bancos, e vimos a imprensa e economistas dizendo que era apenas uma crise financeira, na verdade isso foi um sintoma que agrava ainda mais a crise de superprodução que vive o Modo de Produção Capitalista.

O que acontece é que a crise financeira foi se alastrando, atravessou oceanos e chegou à Europa, e também ao Japão. As principais economias do mundo viram, vários dos principais bancos dos seus sistemas financeiros quebrar, e a sombra da recessão chegar cada vez mais forte. Os governos se mobilizaram, torraram bilhões, trilhões de dólares na tentativa de salvar seus patrões, não conseguiram, reverter o rumo da crise. Dos bancos, ela partiu de malas prontas para a Indústria, atingindo a produção.

Durante as crises as classes e setores de classes são atingidos de forma diferente, os trabalhadores costumam pagar mais pelas crises. “No entanto, também são penalizados segmentos do capital, especialmente os pequenos e médios capitalistas, os primeiros (entre os membros da classe exploradora) onerados pela crise: as falências e quebras ocorrem basicamente entre eles” (Netto; Brás, 2006). Temos visto no desenvolvimento dessa crise, um fenômeno um tanto diferente, não que os trabalhadores não sigam pagando mais pela crise, mas pelos segmentos mais afetados por ela dentro da classe exploradora. Os primeiros a falirem forem grande bancos, agora vemos a GM, maior montadora de automóveis do mundo, falida, o preço das suas ações valem o mesmo que valia logo após a 2º Guerra Mundial, quando analisamos os números desse setor da produção, vemos que estamos diante da possibilidade de uma depressão. As quedas nas vendas no setor são grandes. “A GM teve queda de 45,1 em outubro, acompanhada da Chrysler (34,2%) e Ford (30,2%). Entre janeiro e outubro, a queda geral foi de 14,5%. O prejuízo da GM no terceiro trimestre foi de 2,5 bilhões de dólares e o da Ford foi ainda maior: 2,6 bilhões”. (Almeida).

Isso tudo acontece num momento em que o mundo experimentou um grande crescimento econômico, no qual países em desenvolvimento(assim denominados países como o Brasil) se aproveitaram desse momento de expansão, acontece que as “contradições explodem no ponto mais elevado da curva. A superprodução de capital está pronta para explodir em novo período de crise no seu ponto de exuberância máxima. Exatamente no ponto em que o gigantesco desenvolvimento das forças produtivas do trabalho acumulado no decorrer do ciclo se choca estrondosamente com as estreitas relações de produção capitalistas. E tudo cai, tudo começa a cair.”(Martins)


As bolsas continuam em queda livre, por mais que de vez em quando passe uma corrente de ar quente e as faça subir um pouco, levando com que a imprensa comemore como nunca, as bolsas logo depois de pequenas elevações continuam em queda. Todas as vezes que alguns dos governos imperialistas anunciam o salvamento de um grande banco(como o recentemente anunciado, pelo governo dos EUA, salvamento do Citicorp), as bolsas e os investidores reagem com euforia, pra não dizer histeria, dando a entender para os milhões e milhões de trabalhadores que a crise está passando, quando na verdade os sintomas de que está crise esteja acabando são praticamente inexistentes. “Essas ‘recuperações’ das bolsas são como saltos convulsivos de um corpo que se aproxima da paralisia final.” (Martins)

O desemprego já começa crescer, não só nos grandes países, mas também nos chamados países emergentes, deixando pra trás mais rápido do que nunca a tese de que essa era um crise dos países ricos.

A transferências dos lucros aos países ricos, e fundamentalmente para os EUA, crescem a cada dia, “socializando” assim a crise com o resto do mundo. Grandes montadoras demitem em massa como aconteceu com os 1200 operários na Espanha, com os 1000 operários da FIAT em Minas Gerais, 1200 da Vale e com o assombroso número de 10000 mil demissões de montadoras no Brasil. Sem falar que o famoso recurso à férias coletivas já deixam quase metade dos operários brasileiros em casa, fazendo com que o fantasma do desemprego assombre os trabalhadores cada vez mais. Mostrando que em crise cíclicas como a que estamos vendo, quem paga pela crise são os trabalhadores.

No meio da crise, surge como salvador, o primeiro presidente Negro da história dos EUA. Obama surge como grande salvador, um homem negro, descendente de pai Queniano, um dos países mais pobre e miserável do mundo. Porém, o que está posto, além das ilusões que gerou em grandes camadas de explorados no mundo e o pior das expectativas geradas em grandes setores da chamada esquerda, o que está posto é que Obama é apenas uma nova cara, um novo rosto, com aparência mais amigável, uma necessidade vital, para a continuidade do domínio imperialista estadunidense no mundo, afinal, todo o sentimento antiimperialista “conquistado” pelos EUA, durante a Era-Bush, começa a se esvair pelo ralo.

A política adotada por Obama, vai continuar sendo para que os custos da Crise, sejam pagos cada vez mais pelos trabalhadores, homens e mulheres, negros e negras, que em épocas de crescimento tem o produto de seu trabalho expropriado pelos seus patrões e que em épocas de crise são os primeiros a pagarem, o preço da superprodução capitalista e da destruição de forças produtivas paras que os capitalistas se salvem da crise.

O fato é que muito longe de ser apenas "uma marolinha", como disse o presidente Lula, o Brasil já começa a sofrer os efeitos da crise, e assim vemos a FIAT, a Vale, demitirem mais de mil operários nesta semana, assim como vemos quase 50% dos operários em casa em Férias Coletivas. Os EUA, não só vai dividir a crise com o resto do mundo, como já está fazendo isso

Assim sendo para reverter esse rumo somente a classe operária pode oferecer uma alternativa para humanidade, na esteira da crise é que as contradições do capitalismo podem ser vislumbrados a olhos nus, e a possibilidade da revolução se coloca à nossa frente. Que os ricos paguem pela crise!

Bibliografia

1. Almeida, Eduardo. A Quase falência da industria automobilística dos EUA. Jornal Opinião Socialista. Ano XII – Edição 362
2. Martins, José. Soberbo Crash Americano. Crítica Semanal da Economia. Ano XXII. nº 949.
3. Martins, José. Obama: A realidade fala mais alto que o espetáculo. Crítica Semanal da Economia. Ano XXII. nº 950
4. Martins, José. A Situação Da Indústria Mundial Se Agrava. Crítica Semanal da Economia. Ano XXII. nº 951
5. Martins, José. Loucuras Capitalistas Nos Limites Da Grande Derrocada. Crítica Semanal da Economia. Ano XXII. nº 952
6. Netto, José Paulo; Brás, Marcelo. Economia Política – Uma Introdução Crítica. São Paulo: Cortez, 2006.


Fabiano Santos - Coordenador geral do CASS/UFAL, Coordenador de Assistência Estudantil do DCE/UFAL e militante do PSTU

4 comentários:

Mário Júnior disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mário Júnior disse...

Eis que surge a crise econômica e a imprensa anuncia a mesma como algo quase que fantasmagórico, fruto do "estouro de uma bolha", da quebra [por má administração] de alguns bancos ou da ausência de crédito para os consumidores. Eles não esclarecem o fundamental: que as crises da sociabilidade capitalista marcam ciclos de produção que são abruptamente interrompidos, gerando desemprego e desvalorização do valor pago pela força de trabalho.

O Boletim Semanal nº 951 da Crítica Semanal da Economia - que você coloca na bibliografia - tratou disso muito bem, ao meu ver.

-> A propósito, vou querer que você me envie por msn os boletins 949 e 950, pois eu não os possuo. <-

Como você cita, a crise [que era noticiada como algo fetichizado pelos telejornais] perdeu espaço para a eleição do Obama, como se ele - por ser negro, ou seja: "representante dos pobres" na visão midiática - fosse algum tipo de salvador da pátria ou esperança de salvação do capitalismo.

Essa crise, sendo contornada ao custo do desemprego e degradação das condições de vida do proletariado, dará espaço para outras que surgirão em fins de ciclos produtivos ao qual se condena a lógica de acumulação do capital.

Concordo com o fundamental de seu texto, gostei dele. Você deveria enviar para as listas de e-mails também.

O curioso é que na Europa cerca de 10 mil pessoas estão perdendo o emprego diariamente. Estava vendo o Band News ante-ontem e os representantes do governo estavam dando garantias, numa das reportagens, de que não haveria desemprego em massa no Brasil. A notícia seguinte a esta declaração foi a demissão de 1.300 trabalhadores pela Vale do Rio Doce. Coerência nota 10 para o governo do PT!

Mário Júnior disse...

A postagem excluída foi minha. Era esse mesmo comentário, mas eu tinha cometido um pequeno erro gramatical, por isso preferi repostá-la e apagar a anterior.

Bruna Henrique de Sá disse...

Eu li o text..
Mt bom mesmo.. Eh um resumo de toda crise mundial e a solução "Obama" que os EUA tentam dar a ela.. Vc deveria divulgar msm nas listas ou jornalzinho do CA...

bjusss

 
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