Pérola

"Nós entendemos que Israel tem o direito de se defender pois nesses últimos anos o Hamas lançou diversos foguetes na região"
Barack Obama

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O mundo está mesmo de ponta cabeça?!?

Nesta conjuntura vemos várias pessoas humildes, “intelectuais”, intelectuais, antigos e novos militantes, pessoas que só querem saber da mesa do bar, executivos e operários, perplexos, uma frase muito comum de ser ouvida nos últimos dias de 2008 é, “esse mundo está cabeça pra baixo”.

Desde a crise de 2001 a América Latina vive convulsões sociais, que derrubaram vários presidentes (Argentina, Bolívia, Equador), uma tentativa de golpe na Venezuela que foi derrotada pelas massas e essa conjuntura que permite eleger presidentes como Kirchner na Argentina, Chavez na Venezuela, Lula no Brasil, Correa no Equador, e todos os outros governos de Frentes Populares e/ou Nacionalistas burgueses, no nosso continente.

Esses governos representam em maior ou menor medida mediações distorcidas da realidade, pois são encarados pelas massas trabalhadoras como produtos finais de uma vitória sua, mas na verdade são mediações do capital para evitar uma derrota ainda maior, a contradição se expressa então por que de um lado os trabalhadores enxergam esses governos como seus, mas esses mesmos governos traem as verdadeiras necessidades da classe e governam para a burguesia, é exatamente essa característica que leva a tanta confusão à classe trabalhadora sobre o verdadeiro caráter desses governos.

A crise de 2001 foi uma crise como um potencial destrutivo (no sentido de destruição de forças produtivas, e do nível de vida das massas) muito menor do que essa que vivenciamos no momento, mesmo assim gerou as guerras do Afeganistão e do Iraque, que gerou grandes revoltas em todo o Oriente Médio, além de gerar as movimentações na América Latina como já vimos. Além disso a consciência anti-imperialista também foi ampliada em todo o mundo.

Agora em 2008, vivemos a maior crise desde o grande craque da bolsa de Nova York em 1929, o proletariado norte-americano, o primeiro a sofrer com a crise, já mostra alguns sinais de mobilizações, seja a greve de mais de 50 dias dos operários da Boeing, seja a recente ocupação de fábrica em Chicago, são sinais que podem confluir em mobilizações muito maiores. Na Itália estudantes e professores promoveram manifestações com mais de 200.000 pessoas, na Espanha os operários não ficaram calados frente ao desemprego e várias manifestações ocorreram, agora na Grécia, manifestações ocorrem durante 10 dias seguidos.

Por conta de toda essa conjuntura, existe um deslocamento para a esquerda na consciência das massas trabalhadoras em vários lugares, isso permitiu, por exemplo, a eleição de Obama nos EUA, e permitiu também que o mesmo apoiasse os trabalhadores da fábrica ocupada em Chicago, não que o governo Obama seja uma Frente Popular ou um governo nacionalista burgues, pois o mesmo é de um partido burgues tradicional dos EUA, mas tras esperanças e confusões quase do mesmo modo.

Mais recentemente, vimos o Rafael Correa decretar uma “meia moratória”(apelido que eu dei pra moratória de parte da dívida do Equador), dizendo que não tem mais dinheiro para pagar o total da dívida. Essa é mais uma medida que vai ampliar as ilusões dos trabalhadores, a final essa é uma bandeira histórica da esquerda mundial(o não pagamento da dívida) que o Correa coloca em prática pela metade, e ainda assim, não para que as necessidades do povo trabalhador equatoriano fossem minimamente garantidas, mas por que não tem dinheiro para continuar pagando religiosamente ao imperialismo. Sendo assim, se paga o que pode, mas segue pagando.

A perplexidade no nosso meio é tamanha, que diante dos enfrentamentos com os movimentos sociais, esses governos costumam até radicalizar mais na repressão, assim vemos o Governo Lula ou agir diretamente colocando a PF dentro das universidades, ou fecha os olhos frente as ações dos governos estaduais contra o conjunto dos movimentos sociais. A repressão existe também na Venezuela, no Chile e nos diversos países onde esses governos estão instalados, mostrando a verdadeira face desses governos, mesmo assim as maiorias dos trabalhadores seguem apoiando os mesmos e eles continuam seguindo os planos da burguesia internacional.

Além disso, o papel que a maioria das entidades e grupos políticos forjados nas lutas dos trabalhadores jogam frente a esse governo é completamente nocivo, costumam apoiar completamente os governos, dizendo sempre que os mesmos são progressistas, ou que na verdade temos que ter paciência, ampliando mais ainda as ilusões e o poder de controle das Frentes Populares ao conjunto dos trabalhadores, esse é o papel que vemos o PT, a CUT, a UNE e até o próprio MST cumprir frente ao governo Lula, assim como setores do PSOL cumprem o mesmo papel frente ao governo Chaves e Morales, com a desculpa que esses governos são mais a esquerda, e atendem as reivindicações dos trabalhadores.

Diante disso tudo, penso que já posso responder à pergunta do título do texto. Não, o mundo não está de ponta cabeça. Está exatamente onde ele deveria estar levando em conta que vivemos numa sociedade onde o Modo de Produção hegemônico é o Capitalista. A crise econômica faz parte do ciclo capitalista, assim como as mobilizações que o mundo enfrenta, na verdade desde 2001, e parece ser que a tendência é que se ampliem por conta da crise atual, também faz parte do cenário desse Modo de Produção. Os governos que dizem ser de esquerda é mais um elemento fortemente usado durante o século XX, assim como a traição de direções em outros momentos combativas. Tudo isso faz parte do tipo de sociedade que humanidade construiu na sua história(ou na sua pré-história já diria Marx na Ideologia Alemã).

A única alternativa verdadeira para os trabalhadores e pra maioria da humanidade é a superação desse modo de produção e a construção do socialismo, pra se ter uma idéia a URSS durante a crise de 1929(a maior até agora vivenciada pela humanidade no Modo de Produção Capitalista) não foi atingida pela crise, mesmo a burocracia já tendo iniciado todo o processo de degeneração e burocratização do Estado Operário Soviético, depois da revolução de 1917.
Inverter completamente as relações que vivemos hoje, sejam elas economicas, sociais ou culturais, é fundamental. A humanidade e o planeta não pode resistir eternamente às relações de produção e superexploração, que existem na atualidade, onde a lógica da produção é o lucro e não a satisfação das necessidades da humanidade.

O mundo segue como estava e para sairmos do buraco cada vez mais fundo(o caminho para a bárbarie) que a burguesia colocou a humanidade é mais do que nunca necessário que a classe operária coloque o mundo, dessa vez de verdade, de ponta cabeça.

Fabiano Santos - estudante de Serviço Social da UFAL

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