Sim, Camarada, é hora de jardim
E é hora de batalha, cada dia
É sucessão de flor e sangue,
Nosso tempo nos entregou amarrados
A regar jasmins
Ou a dessangrar-nos numa rua escura,
A virtude ou a dor se repartiram
Em zonas frias, em mordentes brasas,
E não havia outra coisa que eleger,
Os caminhos do céu,
Antes tão transitados pelos santos,
Estão hoje povoados por especialistas.
Já desapareceram os cavalos.
Os heróis vestidos de batráquios,
Os espelhos vivem vazios
Porque a festa é sempre em outra parte,
Onde já não estamos convidados
E há brigas nas portas.
Por isso este é o penúltimo chamado,
O décimo sincero toque
Do meu sino,
Ao jardim, camarada, à açucena,
À macieira, ao cravo intransigente,
À fragrância da flor de laranjeira,
E logo aos deveres da guerra.
Delgada é nossa pátria
E em seu despido fio de faca
Arde nossa bandeira delicada.
Pablo Neruda
09-11-2024
Há 2 dias
Um comentário:
Massa!
Qual o ano em que ele escreveu esse poema?
A depender da data, os "cavalos" podem não ter desaparecido...
Mas o Neruda era fodão mesmo.
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