O Evento que entre outras atrações contou com a banda, considerada por muitos a melhor banda de Reggae da cidade, a Vibrações, arrastou multidões, o espaço lotou, e aí os problemas começaram a acontecer.
Um espaço que era pra celebrar um dos ícones da luta pela libertação dos negros e negras no nosso país, na verdade mostrou ainda mais, não só o descaso, mas todo o preconceito racial que ainda existe em Alagoas e no Brasil.
A agressão, por parte da segurança do evento, a uma mulher negra, pela simples desconfiança de que essa não tinha pago o ingresso (quando na verdade tinha pago), mostra não só o despreparo das equipes de segurança, que ao contrário de fazer o que se propõe (só pra lembrar: SEGURANÇA) traz mais insegurança e repressão às pessoas que se dispõem a ir em eventos como esse, na verdade revela muito mais.
O Estado!
Nunca é demais lembrar, as idéias dominantes de uma época são na verdade a idéias de sua classe dominante(Marx). Por que falar de classes e Estado num texto sobre um evento como o Zumbi Vive?!?
Vejamos, a nossa aventureira (a final querer entrar no Iate Clube Pajuçara naquele dia era realmente uma aventura) enfrenta uma fila enorme pra comprar o seu ingresso, dois passos depois que entrega o ingresso na portaria é agredida com um soco que deforma o seu lábio inferior, seguido de uma gravata (ou mata leão como queiram), e olha só, por coincidência, ela é negra?!? Infelizmente esta criatura que vos escreve não acredita em coincidências.
A “simpática” senhora que agrediu nossa aventureira deu a entender que era Policial, olha do que estamos falando, da Polícia, um dos principais instrumentos de repressão do Estado, Estado esse que reflete todas as idéias de sua classe dominante, e olha o tamanho do problema com que agora nos enfrentamos...
Uma policial, que não poderia estar fazendo um “bico” de segurança, e por tanto não estava atuando enquanto policial, acusa qualquer pessoa que dela discorda de desacato, mesmo sem as pessoas saberem que estavam diante de uma autoridade (afinal ela não estava fardada com deveria, estava fazendo “bico”) e se acha no direito de agredir as pessoas por isso.
A pergunta que fica é, se a nossa aventureira não fosse negra estaríamos tentando entender os fatos que aconteceram? Creio que não, ao contrário, tenho certeza absoluta que se nossa aventureira fosse branca, loira e aparentasse ter muito dinheiro isso não aconteceria, e isso mostra todo o despreparo com que a polícia (não custa repetir, aparato repressor do estado) trata os nossos negros e as nossas negras e isso não acontece à toa.
O despreparo está a serviço do que pensa o Estado e a sua classe dominante, esses fatos aconteceram por que na cabeça da polícia (e por tanto daqueles e daquelas que faziam “bico”) ali estavam reunidos, ou melhor dizendo amontoados, quase a totalidade dos maloqueiros, maconheiros e tudo que eles pensam que não vale a pena na sociedade; amontoado esse que nossa aventureira apenas ajudava a aumentar, então na dúvida se ela pagou ou não, dá-lhe porrada, nada de diálogo, nada de perguntar(pergunta aqui, no sentido de diálogo) primeiro, é a velha máxima da nossa maravilhosa polícia, é negro, então primeiro bate depois pergunta, e tudo fica por isso mesmo, por quê? Porque esses policiais são protegidos pelo Estado e a gente vai entrar numa roda viva aqui caso tente explicar todo o círculo vicioso.
Zumbi Vive?
A pergunta feita no título permanece. Zumbi vive, e vai viver sempre que alguém se incomodar com o racismo e tentar dar continuidade à sua luta, pela verdadeira liberdade dos negros e negras.
Cada vez que as pessoas se indignarem com cenas como esta Zumbi vai estar mais vivo do que nunca, mas quando ele servir apenas por interesse mercadológico... ele vai estar cada dia sepultado mais fundo na sua tumba.
Fabiano Santos
PS: esse é o primeiro texto corrigido do blog e esse trampo se deve a paciência da jovem Cacau, minha brodinha de faculdade, já que este que vos escreve não tem nenhuma paciência para talk tarefa.
2 comentários:
Eu não entendi isso: o que tem haver Zumbi com as cores da bandeira da Jamaica (como estava no cartaz de anúncio do show espalhado pela cidade) e com o reggae?
A primeira coisa que começo a questionar é por aí: houve uma banalização do nome de Zumbi e se fez da proximidade do Dia da Consciência Negra (e de seu consequente feriado estadual) um motivo para se organizar um show de qualquer-coisa e lucrar com isso. A memória de Zumbi passou a movimentar o comércio da Indústria Cultural.
E foi um show como qualquer outro, sem nenhum motivo para se pensar que seria uma homenagem significativa à memória de quem lutou por liberdade no tempo da escravidão; e isso pode até ser reforçado com o fato da agressão, descrita aqui no seu blog, Fabiano, o que torna o evento ainda mais triste dentro do contexto que o intitulava: "Zumbi vive".
O que diria Zumbi se pudesse ver que ele foi transformado em ícone utilizado pelas elites dominantes - os mesmos que o mataram - para festejos políticos na Serra da Barriga? O que diria Zumbi se pudesse ver que mesmo com todo o combate que se faz ao racismo - inclusive no enquadramento jurídico-penal - um show em memória a sua luta presenciou uma agressão a uma mulher negra sem nenhum sentido, por puro preconceito?
De fato houve um despreparo por parte do segurança e de quem o contratou.
No mais, a citação do Marx que você parafraseia (uma das mais enfáticas dele) está em pelo menos dois textos: A Ideologia Alemã e o Manifesto do Partido Comunista.
Abraços!
Pois é! Você deixou comentários e me linkou. Até divulgou o seu blog no tópico da comunidade da Ufal. Quanto "avanço" para um único dia, hein. :)
Agora só falta atualizar o seu blog mais vezes...
Postar um comentário