Como sei pouco e sou pouco,
Faço o pouco que me cabe
Me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
O homem que eu quero ser.
Já sofri o suficiente
Para não enganar a ninguém:
Principalmente aos que sofrem
Na própria vida, a garra.
Da opressão, e nem sabem.
Não, não tenho o sol escondido no meu.
Bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
Para quem já a primeira
E desolada pessoa
Do singular – foi deixando,
Devagar, sofridamente
De ser, para tranformar-se-
Muito mais sofridamente-
Na primeira e profunda pessoa do plural.
Não importa que doa: é tempo
De avançar de mãos dadas
Com quem vai no mesmo rumo,
Mesmo que longe ainda esteja
De aprender a conjugar
O verbo amar.
É tempo sobretudo
De deixar de ser apenas
A solitária vanguarda
De nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(dura no peito, arde a límpida verdade de nossos erros)
Se trata de abrir o rumo.
Os que virão, serão povo,
E saber serão, lutando.
Thiago de Mello, 1978
2 comentários:
Sou extremamente admiradora da obra de Thiago de Mello, é realmente, uma pena este grande autor não ser devidamente reconhecido em nosso país...como sempre, depois da morte vem a recompensa!!!Penso que ele é um poeta que deixa o coração falar mais alto, ele escreve em nome de uma sociedade injustiçada, deve estar aí o ponto chave de sua pouca aparição na mídia!!
Parabéns pela iniciativa e pela escolha do poema!!
Abraços
Parabéns pela escolha de postar estar lindíssima poesia, além do tema do blog, que merece atenção especial por sua importância.
Um abraço!
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