Pérola

"Nós entendemos que Israel tem o direito de se defender pois nesses últimos anos o Hamas lançou diversos foguetes na região"
Barack Obama

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Zumbi Vive?

No sábado, dia 15 de novembro, Maceió foi brindada com mais um evento, que pelo título, deveria ser mais uma manifestação contra o racismo, próximo do dia da consciência negra, lembrava Zumbi, aquele mesmo dos Palmares, que na sua árdua e grande luta pela libertação, nos deixou um exemplo para ser vivido até os dias de hoje.

O Evento que entre outras atrações contou com a banda, considerada por muitos a melhor banda de Reggae da cidade, a Vibrações, arrastou multidões, o espaço lotou, e aí os problemas começaram a acontecer.

Um espaço que era pra celebrar um dos ícones da luta pela libertação dos negros e negras no nosso país, na verdade mostrou ainda mais, não só o descaso, mas todo o preconceito racial que ainda existe em Alagoas e no Brasil.

A agressão, por parte da segurança do evento, a uma mulher negra, pela simples desconfiança de que essa não tinha pago o ingresso (quando na verdade tinha pago), mostra não só o despreparo das equipes de segurança, que ao contrário de fazer o que se propõe (só pra lembrar: SEGURANÇA) traz mais insegurança e repressão às pessoas que se dispõem a ir em eventos como esse, na verdade revela muito mais.

O Estado!

Nunca é demais lembrar, as idéias dominantes de uma época são na verdade a idéias de sua classe dominante(Marx). Por que falar de classes e Estado num texto sobre um evento como o Zumbi Vive?!?

Vejamos, a nossa aventureira (a final querer entrar no Iate Clube Pajuçara naquele dia era realmente uma aventura) enfrenta uma fila enorme pra comprar o seu ingresso, dois passos depois que entrega o ingresso na portaria é agredida com um soco que deforma o seu lábio inferior, seguido de uma gravata (ou mata leão como queiram), e olha só, por coincidência, ela é negra?!? Infelizmente esta criatura que vos escreve não acredita em coincidências.

A “simpática” senhora que agrediu nossa aventureira deu a entender que era Policial, olha do que estamos falando, da Polícia, um dos principais instrumentos de repressão do Estado, Estado esse que reflete todas as idéias de sua classe dominante, e olha o tamanho do problema com que agora nos enfrentamos...

Uma policial, que não poderia estar fazendo um “bico” de segurança, e por tanto não estava atuando enquanto policial, acusa qualquer pessoa que dela discorda de desacato, mesmo sem as pessoas saberem que estavam diante de uma autoridade (afinal ela não estava fardada com deveria, estava fazendo “bico”) e se acha no direito de agredir as pessoas por isso.

A pergunta que fica é, se a nossa aventureira não fosse negra estaríamos tentando entender os fatos que aconteceram? Creio que não, ao contrário, tenho certeza absoluta que se nossa aventureira fosse branca, loira e aparentasse ter muito dinheiro isso não aconteceria, e isso mostra todo o despreparo com que a polícia (não custa repetir, aparato repressor do estado) trata os nossos negros e as nossas negras e isso não acontece à toa.

O despreparo está a serviço do que pensa o Estado e a sua classe dominante, esses fatos aconteceram por que na cabeça da polícia (e por tanto daqueles e daquelas que faziam “bico”) ali estavam reunidos, ou melhor dizendo amontoados, quase a totalidade dos maloqueiros, maconheiros e tudo que eles pensam que não vale a pena na sociedade; amontoado esse que nossa aventureira apenas ajudava a aumentar, então na dúvida se ela pagou ou não, dá-lhe porrada, nada de diálogo, nada de perguntar(pergunta aqui, no sentido de diálogo) primeiro, é a velha máxima da nossa maravilhosa polícia, é negro, então primeiro bate depois pergunta, e tudo fica por isso mesmo, por quê? Porque esses policiais são protegidos pelo Estado e a gente vai entrar numa roda viva aqui caso tente explicar todo o círculo vicioso.

Zumbi Vive?

A pergunta feita no título permanece. Zumbi vive, e vai viver sempre que alguém se incomodar com o racismo e tentar dar continuidade à sua luta, pela verdadeira liberdade dos negros e negras.

Cada vez que as pessoas se indignarem com cenas como esta Zumbi vai estar mais vivo do que nunca, mas quando ele servir apenas por interesse mercadológico... ele vai estar cada dia sepultado mais fundo na sua tumba.
Fabiano Santos
PS: esse é o primeiro texto corrigido do blog e esse trampo se deve a paciência da jovem Cacau, minha brodinha de faculdade, já que este que vos escreve não tem nenhuma paciência para talk tarefa.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

25 anos sem Ana Cristina Cesar

"olho muito tempo o corpo de um poema"

olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas


Um Beijo

que tivesse um blue.
Isto é imitasse feliz a delicadeza, a sua,
assim como um tropeço que mergulha
surdamente no reino expresso
do prazer.
Espio sem um ai
as evoluções do teu confronto
à minha sombra
desde a escolha
debruçada no menu;
um peixe grelhado
um namorado
uma água
sem gás
de decolagem:
leitor embevecido
talvez ensurdecido
"ao sucesso"
diria meu censor
"à escuta"
diria meu amor


A Ponto de Partir

A ponto de
partir, já sei
que nossos olhos
sorriam para sempre
na distância.
Parece pouco?
Chão de sal grosso, e ouro que se racha.
A ponto de partir, já sei que nossos olhos sorriem na distância.
Lentes escuríssimas sob os pilotis.


O Homem Público N. 1 (Antologia)

Tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir.
No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura venenosa
de tão funda.



Sem título

é muito claro
amor
bateu
para ficar
nesta varanda descoberta
a anoitecer sobre a cidade
em construção
sobre a pequena constrição
no teu peito
angústia de felicidade
luzes de automóveis
riscando o tempo
canteiros de obras
em repouso
recuo súbito da trama.


Sem título

Quando entre nós só havia
uma carta certa
a correspondência
completa
o trem os trilhos
a janela aberta
uma certa paisagem
sem pedras ou
sobressaltos
meu salto alto
em equilíbrio
o copo d’água
a espera do café.



Ana Cristina César: íncone da poesia "marginal", se é que na poesia marginal existem íncones.
 
BlogBlogs.Com.Br